Quando vamos escolher um prato, geralmente observamos características como cor, textura, cheiro e, principalmente, sabor, além do preço. Porém, para os celíacos – e pessoas com demais restrições alimentares –, outro aspecto deve entrar nessa avaliação: a segurança. É que as pessoas que têm Doença Celíaca (DC), condição autoimune de origem genética, precisam seguir por toda a vida uma dieta rigorosamente isenta de glúten (proteína presente no trigo, na cevada e no centeio), evitando até mesmo a contaminação cruzada, que é a transferência do glúten para um alimento naturalmente sem a proteína durante processos de produção e manipulação, por exemplo.
E nesta sexta-feira, 16 de maio, Dia Mundial de Conscientização sobre a Doença Celíaca, o Gastrô traça um roteiro glúten free por Belo Horizonte, mostrando que uma comida sem glúten não precisa ser sem graça – muito pelo contrário. “Em BH não temos muitos locais que são exclusivos sem glúten. Ainda que sejam poucos, apresentam uma variedade bem interessante”, afirma a influenciadora Sílvia Borela, que mantém no Instagram o perfil @minhavida.semgluten, ao ressaltar a dificuldade de encontrar na cidade estabelecimentos que sejam seguros para os celíacos, apesar de reconhecer certa diversidade dentro dessa limitação e perceber uma evolução do mercado na capital.
Um desses locais é a Padaria Seleve, no bairro Lourdes, que há dez anos produz hambúrgueres, tapiocas, omeletes, salgados, pães variados, além de bolos, tortas, muffins, rocamboles, docinhos e cookies. Funcionando de segunda a sábado, a casa oferece opções de café da manhã e de lanches o dia todo. À frente da padaria desde março deste ano, a nutricionista Lívia Maciel Peres destaca os queridinhos da clientela. “O nosso carro-chefe é o pãozinho francês, mas o pão de batata-doce e o de cebola também têm brilhado. Na confeitaria, a torta de brigadeiro é a campeã de vendas, mas a de abacaxi com coco tem feito um páreo duro. Brigadeiro, cookies e cinnamon roll não podem faltar no dia a dia. O bolo e o muffin que mais vendem são os de cenoura com ganache e, em segundo lugar, os de cuscuz com goiabada”, lista.
A nutricionista explica que, para conseguir manter o negócio, com uma produção que seja saborosa e, ao mesmo tempo, segura para celíacos e pessoas com outras restrições, enfrenta vários desafios no dia a dia, como o custo elevado das mercadorias, a qualificação dos fornecedores e a dificuldade de contratação da mão de obra, que deve ser constantemente treinada. “É um se reinventar a cada dia”, resume.
Para quem quiser almoçar, a Seleve também está de portas abertas, com refeições variadas no horário das 11h às 14h. Uma sugestão de prato executivo é o salmão com batata rústica, “que vem com uma salada especial de alface-americana, rúcula, tomatinho, nozes, mix de sementes e um molhinho especial feito com leite vegetal, creme de castanhas e limão”, detalha Lívia.
Um estabelecimento que também oferece almoço, mas somente aos sábados e domingos, é a Casa Tomilho, no bairro Colégio Batista, inaugurada no ano ado. Em um espaço aconchegante e acolhedor, com decoração cuidadosamente pensada, os clientes são convidados a se sentirem em casa, de um jeito genuinamente mineiro. A ideia é que todos, independentemente de restrição alimentar, possam apreciar uma “comida feliz”, conforme explica a cozinheira Sabrina Campos, que comanda o restaurante.
“É uma comida que olha para o cozinhar como um ato de amor, um ato de cuidado. Uma comida que olha para a nossa história regional, para os ingredientes, mas também garante que as pessoas possam ter a chance de experimentar a delícia que é comer bem e tranquilo”, pontua.
Com base nas principais escolhas dos frequentadores, Sabrina ressalta, como entradas, o quiabo com missô (“vegano e surpreendente!”) e os pastéis de angu, com recheios variados. Já em relação aos pratos principais, uma boa pedida é a feijoada ou o nhoque de batata com ragu de costela, que tem uma massa bem leve. E, para fechar essa experiência de sabores e aconchego, um pudim cremoso e delicado de sobremesa, “com gosto de casa de vó”, e um cafezinho, servido como cortesia.
A cozinheira, que tem há oito anos uma marca de massas e salgados congelados, geleias e molhos, a Tomilho Fresco, também elenca os obstáculos que enfrenta em seus empreendimentos. “O maior deles é quebrar o estigma de que comida sem glúten é sem graça. A verdade é que comida boa não precisa de rótulo – ela precisa de ingredientes de qualidade, técnica e afeto. Também há os desafios comuns de um pequeno negócio: manter a consistência, lidar com custos, formar equipe”, analisa.
Não é tudo igual
Durante a semana, o Radú Glúten Free, no Sagrada Família, oferece refeições compostas por arroz, feijão, salada, um acompanhamento e uma opção de carne, tanto para entrega quanto para consumo no local. Em princípio, o restaurante não difere dos muitos estabelecimentos que vendem pratos feitos em Belo Horizonte, mas, no caso da comida para quem tem doença celíaca, não é tão simples assim.
“A questão é não usar condimentos e saber trocar algumas marcas que contêm glúten, como alguns molhos de tomate, caldo de galinha, orégano, páprica etc.”, explica o contador Everton Alves Pereira, que, por ver a dificuldade da esposa e da filha, celíacas, de se alimentarem no dia a dia, resolveu abrir o Radú, há cerca de um mês. “Acho que é um desafio e vou tentar o possível e o impossível para dar certo”, comenta Everton sobre a complexidade de um negócio recém-aberto e com tal especificidade.
Também inaugurado há poucos dias, o café Feito Por Elas, no Esplanada, veio para atender a demanda dos celíacos por lugares seguros e com boa comida. “Oferecemos um cardápio variado e saboroso: pães, bolos, tortas, salgados, sanduíches, cafés especiais, sucos e doces artesanais – tudo 100% sem glúten”, conta Laysa Carvalho, à frente da empresa, formada exclusivamente por mulheres. A empreendedora, que é graduada em gestão ambiental e tem pós em gestão de pessoas, resolveu entrar na área de alimentos sem glúten também com base em uma vivência pessoal, por ter pessoas próximas que são celíacas.
E Laysa dá a dica: “Nossa coxinha sem glúten se tornou um dos maiores sucessos da casa. Nós nos desafiamos a criar uma coxinha que fosse realmente saborosa, segura e que entregasse aquela experiência de comer uma ‘coxinha raiz’ – nada com cara de produto fit ou adaptado demais. O resultado nos surpreendeu: recebemos muitos s positivos de clientes celíacos e não celíacos, que reconhecem nela o sabor e a textura da coxinha tradicional”.
Aprovação
Quem esteve no café foi a influenciadora Sílvia Borela, que, além da coxinha, experimentou outras delícias, como o pão de queijo com pernil e o bolo red velvet, todos aprovadíssimos. “Acho muito importante buscar ir a esses locais com frequência, para apoiar o empreendedor que está lá se dedicando a oferecer um produto bom e seguro. Os insumos para produção sem glúten são mais caros, e os cuidados na produção são maiores e envolvem um treinamento mais criterioso de funcionários”, comenta ela, evidenciando o papel da comunidade celíaca como incentivadora desses estabelecimentos.
Mineirice também para celíacos
Enquanto esses novos locais começam a fazer sucesso, o Pastel do Moinho, assim como a Padaria Seleve, já está consolidado entre as boas opções para os celíacos em BH. Localizado no Mercado Novo, é especializado em pastel de angu, uma iguaria tipicamente mineira.
No comando da casa, o empresário André Parreiras conta que, dos dez diferentes recheios que oferece, um tem ocupado o primeiro lugar no gosto dos clientes: o de ragu de costelinha. “O sabor vem com toda uma carga afetiva”, acredita. E sobre os desafios com que lida no dia a dia do empreendimento, ele enfatiza: “Não tem segredo, mas também não tem atalho – o caminho é o da dedicação. Além de uma seleção criteriosa dos insumos, testamos várias vezes as receitas antes de comercializá-las e somos muito exigentes com a manutenção do padrão de produção”, diz.
Menu-degustação inclusivo e seguro
Em Belo Horizonte, os celíacos também podem ter uma experiência gastronômica especial, com direito a menu-degustação composto por entrada, prato principal e sobremesa. Trata-se do ChezBabette, da médica nutróloga e chef de cozinha Patrícia Veloso, que organiza eventos temáticos em sua residência, geralmente uma vez ao mês. “O ChezBabette é um bistrô em casa. As pessoas chegam e encontram mesa posta, arranjos de flores, boa música e um clima de carinho e acolhimento. É muito comum esse tipo de evento na Europa”, explica Patrícia.
A chef conta que sempre gostou de participar de festivais gastronômicos, tanto no Brasil quanto no exterior, e já tinha o costume de preparar banquetes em casa para familiares e amigos. Quando teve o diagnóstico da doença celíaca, há seis anos, e precisou restringir a alimentação, ela percebeu que, com as adaptações necessárias, poderia continuar a fazer o que é a sua paixão: cozinhar e receber as pessoas.
“Já fiz brunch, comida tailandesa, comida italiana, e o próximo será um jantar romântico para comemorar o amor, no Dia dos Namorados, 12 de junho. Eu brinco que o celíaco não precisa de namorado para comemorar esse dia, pois já tem muito amor-próprio”, diverte-se
Onde ir:
Seleve
Avenida Álvares Cabral, 399, Lourdes, BH
De segunda a sexta, das 10h às 19h (a cozinha se encerra 30 minutos antes)
Sábado, das 10h às 20h (a cozinha se encerra 30 minutos antes)
Instagram: @seleve_seleve
WhatsApp: (31) 3786-4001
Casa Tomilho
Rua Célio de Castro, 347, Colégio Batista, BH
Sábado e domingo, das 11h30 às 17h
Instagram: @tomilho.fresco
Produtos Tomilho Fresco
Feira Terra Viva – Rua Pouso Alegre, 1.911, Horto, BH
Sábado, das 8h30 às 13h
Radú Resturante Glúten Free
Rua Godofredo de Araújo, 375, Sagrada Família, BH
De segunda a sexta, das 10h às 13h30
Instagram: @radurestaurante
WhatsApp: (31) 99599-5697
Feito Por Elas
Rua 28 de Setembro, 236, Esplanada, BH
De quarta a sexta, das 14h às 19h
Sábado, das 9h às 18h
Domingo, das 9h às 13h
Instagram: @feitoporelas.bh
WhatsApp: (31) 99671-3569
Pastel do Moinho
Mercado Novo – Av. Olegário Maciel, 742, loja 1.020, 1º andar, corredor B1
De terça a quinta, das 12h às 20h
Sexta e sábado, das 12h às 22h
Instagram: @pasteldomoinho
WhatsApp: (31) 98894-3700
ChezBabette
Eventos mensais
Instagram: @chezbabettebh
WhatsApp: (31) 99762-1045
*sob supervisão de Lorena K. Martins