Os últimos dias estão sendo preocupantes para nós. Se antes estávamos habituados a ver notícias de queimadas agredindo nossos biomas em espaços distantes dos lares, agora a realidade é outra. No sábado, em plena celebração da Independência, o Corpo de Bombeiros atendeu a cinco chamados de incêndio por hora em Belo Horizonte.

Não à toa tenho recebido perguntas sobre a contratação de seguros contra incêndios para propriedades, já que há três décadas me dedico ao mercado securitário. E fico me perguntando, será mesmo que apenas o seguro é suficiente para nos proteger?

O aumento das queimadas e a vulnerabilidade dos bens

 De acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Brasil está prestes a superar 160 mil focos de incêndio em áreas urbanas e rurais, o que significa um aumento de 104% em relação a 2023.

Empresas e proprietários rurais estão na linha de frente desse perigo. Lavouras inteiras podem ser destruídas por incêndios descontrolados, resultando em prejuízos financeiros. Aliás, esse drama está sendo enfrentado pelos produtores de São Paulo, que já somam prejuízos acima de R$ 1 bilhão.

O impacto não se restringe apenas às zonas produtoras: a fumaça, o calor e a proximidade de incêndios afetam regiões urbanizadas, expondo imóveis e comércios ao risco. O mesmo vale para instalações comerciais, onde um único incidente pode levar ao fechamento de operações.

Com o agravamento do cenário, não é exagero afirmar que o seguro contra incêndios deve ser visto como uma prioridade.
Infelizmente, o Brasil ainda não tem uma cultura forte de contratação de seguros. Apenas 20% das casas e 10% das áreas rurais estão seguradas, e cerca de 30% dos veículos possuem algum tipo de proteção.

Diante desse cenário, surge uma questão urgente: estamos protegendo adequadamente nossos patrimônios?

Seguro: essencial, mas pouco compreendido

A contratação de uma apólice de seguro não é suficiente por si só. É essencial que o contratante tenha consciência das coberturas incluídas e das exclusões da apólice. Muitos segurados acabam descobrindo tarde demais que certos danos, como os causados por calor intenso ou fumaça proveniente de incêndios florestais, podem não estar cobertos se não forem especificados no contrato.

Ao contratar um seguro contra incêndios, alguns pontos críticos devem ser observados: (i) é vital assegurar que a apólice cubra todas as potenciais causas de incêndio, incluindo aqueles originados fora da propriedade, mas que possam afetar o imóvel; (ii) muitos proprietários subestimam o valor necessário para reconstruir ou substituir o imóvel e seus conteúdos em caso de sinistro; mas, em um momento de emergência, descobrir que o seguro cobre apenas parte do prejuízo pode ser um choque devastador; e (iii) propriedades como fazendas e indústrias necessitam de coberturas mais abrangentes, que incluam também a proteção para os equipamentos essenciais à operação.

Só o seguro basta?

Embora os seguros sejam fundamentais, não podemos depender exclusivamente deles para nossa proteção.


Ao contratar um seguro, o cliente não está apenas transferindo o risco para a seguradora, mas também assumindo responsabilidades na mitigação de possíveis sinistros.

Manutenções regulares são fundamentais para garantir que imóvel, equipamentos ou bens estejam em boas condições, bem como construções e instalações devem seguir as normas de segurança vigentes, por exemplo.

Também se faz importante combater as causas de incêndios, muitas vezes associados a crimes e ao aquecimento que enfrentamos. Essa realidade nos chama ao dever de adotar uma postura mais sustentável. Práticas que reduzam a emissão de carbono e o desmatamento não só diminuem o risco de incêndios, mas também contribuem para a preservação do planeta.

Um futuro mais seguro e sustentável depende da união entre responsabilidade do segurado, proteção financeira e compromisso com o meio ambiente.

(*) Alexandre Mucida é CEO da Interweg Seguros e Benefícios