A cada dia, no consultório, procuro ensinar algo básico. Mesmo em palestras, quem ouve com atenção aprende: qualquer emoção, sentimento, só afeta aquele que sente, nunca quem provoca.
Assim, nada mais burro, contraproducente e que faz adoecer que ficar relembrando, reverberando situações negativas, fatos que nos provocaram sensações de raiva, ódio, ciúmes, ressentimentos, inveja, vergonha, constrangimento por exemplo.
Aqui entra uma nova lei neurocientífica, oriunda da filosofia quântica: não há qualquer diferença para o cérebro entre uma ação real ou uma imaginação, pensar equivale a agir. Ele reage liberando as mesmas reações eletroquímicas, seja pela ação ou pelo pensamento.
Quem tem medo do escuro, basta faltar luz para o cérebro disparar sinais de pânico, mesmo que a pessoa esteja na segurança de sua casa. Novos estudos mostram que a memória é gravada na proporção das reações afetivas que estão associadas. Quanto maior a tristeza, a alegria ou o desconforto, maior a lembrança daquele fato.
Um exemplo é o estresse pós traumático de quem ou por um acidente grave. Essas pessoas terão por meses ou anos, sonhos ou lembranças traumáticas que tendem a ficar "voltando" e interferindo no dia-a-dia.
Há um círculo vicioso: quanto mais desagradável uma situação, mais a lembrança fica voltando à mente. Quanto mais nos lembramos da situação, mais sentimentos desagradáveis trazemos para o presente, e o cérebro gasta estoque de neurotransmissores continuamente.
Escravizamos-nos pelo rancor, raiva, ódio e de forma estúpida. Somos punidos por nós mesmos, tendo que viver no mau humor, irritação, depressão perdendo neurotransmissores, serotonina, dopamina, ocitocina que deveriam estar sendo usados para gerar alegria, prazer, relaxamentos.
Ainda bem que o contrário é verdadeiro, e boas lembranças nos fazem bem, inspiram, dão bom humor. Mas que pena, que, em geral, dois terços da memória humana seja negativa. O que explica o predomínio dos pesadelos sobre os sonhos bons em todo ser humano, já que na história da humanidade, uma vez que herdamos ancestralmente, a luta pela sobrevivência, a fome, as guerras, o medo, ódio entre outras experiências negativas predominam.
A ótima notícia: somos capazes de remodelar todos os nossos conceitos, valores, e assim "limpar" essa bagagem de péssimos sentimentos e afetos que nos habita e adoece e trocar por emoções positivas como compreensão, serenidade, altruísmo, desapego e, principalmente, perdão - mais que no sentido religioso - e, sim, como algo transcendente que é exercitado a cada dia. Isso apaga as más lembranças, as más experiências. Ao perdoarmos aqueles que sendo imaturos e pobres de espírito, as más lembranças não roubam nosso bem estar. Por isso, perdoar é altamente terapêutico!