Inspirado no famoso musical da Broadway — que, por sua vez, adapta o livro de 1995 Wicked: A História Não Contada das Bruxas de Oz — o filme Wicked, dirigido por Jon M. Chu, tem a missão de recontar a origem de uma das vilãs mais emblemáticas da cultura pop: Elphaba, a bruxa má do Oeste.
Muito além do estereótipo da feiticeira cruel, a personagem ganha aqui um retrato mais humano, vulnerável e politizado, numa história que mistura magia, amizade e as dores de ser diferente.
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A origem da bruxa má
O filme se inicia em um cenário já conhecido: a terra de Oz está em festa, quando descobrem que a terrível Bruxa Má do Oeste foi derrotada por uma jovem garota, recém-chegada naquele mundo.
Durante a comemoração, os munchkins questionam Glinda (Ariana Grande) sobre quem, afinal, era essa vilã. É então que ela decide contar a verdadeira história por trás da figura incompreendida — e assim se desenrola a narrativa do filme.
Nascida com a pele verde (e fruto de uma traição de sua mãe), Elphaba Thropp (Cynthia Erivo) foi rejeitada por seu pai e discriminada pelos moradores de Oz desde a infância. Seu refúgio habitava em seu fascínio pelo grande Mágico, e nos animais falantes que ali habitavam.
Tudo muda quando ela é aceita, de forma inesperada, na Universidade Shiz. É ali que a jovem começa a desenvolver suas habilidades mágicas, descobre o poder da amizade e se vê no centro de um mistério que envolve o desaparecimento dos mesmos animais e a corrupção dentro das instituições mágicas.
O filme acerta ao equilibrar comédia e drama em uma narrativa que não subestima o público. Temas como preconceito, manipulação de narrativas, identidade e aceitação são tratados de forma ível, mas sem perder profundidade. As dualidades clássicas de Oz — bem versus mal, poder versus responsabilidade, rivalidade versus afeto — ganham novas camadas aqui.
Universo visual rico e performances marcantes
Com uma ambientação cuidadosa, Wicked oferece um espetáculo visual que honra tanto o universo criado no filme clássico de 1939 (O Mágico de Oz) quanto a estética do musical original. Os figurinos, cenários e efeitos mágicos contribuem para uma atmosfera encantadora e imersiva.
Cynthia Erivo entrega uma Elphaba intensa e comovente, especialmente em seu grande momento musical. Ariana Grande surpreende ao trazer leveza e carisma à sua personagem, com um toque nostálgico que remete à sua fase Nickelodeon, sem perder o brilho cênico.
Timing errado
Mesmo com sua força visual e dramática, Wicked pode despertar uma sensação de déjà-vu. Nos últimos anos, a cultura pop revisitou vilãs sob novas óticas — como em Malévola (2014) e Cruella (2021) — e mergulhou em tramas escolares de fantasia, caso de Wandinha (2022) e, claro, Harry Potter (2001).
O curioso é que Wicked antecede todas essas produções, e provavelmente serviu de referência para muitas delas. O musical que inspira o filme foi pioneiro ao reimaginar o mundo de Oz com uma lente mais crítica, madura e política.
O problema, portanto, não está na originalidade, mas no timing. Depois de tantos adiamentos, a estreia ocorre num momento em que suas ideias já foram amplamente exploradas, o que pode diluir o impacto de algo que, no papel, deveria soar inovador.
Ainda assim, Wicked mantém sua relevância. Seus temas seguem urgentes, e sua mensagem sobre empatia, resistência e construção de identidade continua a ressoar — especialmente em tempos marcados por intolerância, polarização e manipulação de narrativa.
Reconhecimento na temporada de premiações
Apesar do lançamento tardio, Wicked não teve dificuldades para conquistar público e crítica. Com mais de 700 milhões de dólares arrecadados na bilheteria mundial, o filme também brilhou na temporada de premiações.
Foram 129 vitórias em um total de 325 indicações. No Oscar, venceu em Figurino e Design de Produção, além de concorrer em outras oito categorias, incluindo a de Melhor Filme. No BAFTA, repetiu o feito com os mesmos prêmios e recebeu mais cinco indicações. Já no Critics Choice Awards, levou nas mesmas categorias e ainda garantiu o prêmio de Melhor Direção para Jon M. Chu, entre onze indicações no total.
Vale a pena assistir Wicked?
Se você é fã de musicais ou aprecia histórias que usam a fantasia como espelho para temas do mundo real, Wicked é uma experiência que merece ser vista. Com trilha sonora marcante, visuais deslumbrantes e um roteiro que convida à reflexão, o filme vai além de uma simples releitura de uma vilã.
O longa está disponível no Prime Video e marca apenas o começo dessa jornada. A segunda parte, Wicked: Parte 2, chega aos cinemas no dia 20 de novembro e promete encerrar a história de forma grandiosa e com ainda mais impacto.
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