A Viagens Promo, operadora de turismo que atua como intermediária na venda de agens aéreas e reservas de hospedagem para agências de viagens, enfrenta uma grave crise financeira que resultou no cancelamento em massa de reservas e em prejuízos para clientes. Nos últimos dias, os viajantes e as agências de turismo relataram problemas com reservas canceladas de última hora, além de dificuldades para obter reembolsos. Segundo relatos, pacotes que incluíam agens aéreas e estadias em hotéis foram suspensos sem aviso prévio, deixando hotéis sem pagamentos e consumidores sem alternativas imediatas.
Para as pessoas que estão com viagens marcadas para os próximos dias, a advogada Bhrenda Gagno (@advdoviajante e @vellosogagno.ad), CEO do escritório Velloso Gagno e especialista em direito do viajante, dá uma dica: “as pessoas que compraram os pacotes precisam entrar em contato urgentemente com as empresas fornecedoras, seja o hotel ou a companhia aérea, para confirmar se o pagamento foi realizado. Se foi, guardar o comprovante, mas se não tiver sido pago, indico a realizar uma compra preventiva em outra plataforma com tarifa reembolsável mesmo que em cima da hora, porque assim se tiver que arcar com um gasto extra, fica menor do que pagar em cima da hora. Lembrando que esse valor deve ser pago posteriormente pela Viagens Promo, visto que esse problema e gasto extra foi causado por eles”.
Entenda o caso
Desde novembro de 2024, surgiram burburinhos sobre atrasos de pagamentos e cancelamentos de serviços da Viagens Promo. Fontes do setor relatam que os problemas vinham sendo percebidos há algum tempo. Criada em 2018 por Renato Kido e mais um sócio na época, a empresa cresceu rapidamente e conquistou uma posição de destaque no mercado. Ela destacava por oferecer voos fretados para destinos nacionais, principalmente o Nordeste. Para mostrar sua força, pagava comissão alta e entregava prêmio aos agentes de viagens, realizava mega famtours (viagens de familiarização com agências) e lançava promoções exclusivas com preços muito abaixo dos praticados no mercado.
No último dia 13/2, as agências de viagens de todo o país tiveram uma surpresa desagradável com um comunicado da operadora, no qual reconhecia “instabilidade no fluxo operacional e financeiro”. No mesmo dia, a Unav, grupo formado por mais de 1.300 agências, manteve contato com Renato Kido, diretor-geral e sócio-fundador da operadora, e emitiu nota ao mercado afirmando que a Viagens Promo "não dispunha de recursos para honrar as reservas com embarques futuros que ainda não foram quitados”.
Na sexta-feira ada, um grupo de ageiros de uma agência de Minas Gerais com viagem marcada para Porto Seguro (BA) e Maceió (AL) encontrou dificuldades de embarcar no terminal em Confins porque a Gol havia encerrado contrato com a operadora. Em nota, a Gol informou que, desde domingo (16/3), não fez nenhum voo fretado da Viagens Promo, em razão do encerramento do contrato – a operadora deve a companhia aérea cerca de R$ 1 milhão, referentes a fretamentos e taxas de embaeque.
“Face a desacordos comerciais, a Gol informa que os voos reservados pela agência para domingo (16/3) – Porto Seguro (BPS)/Confins (CNF) e Maceió (MCZ)/Confins (BPS) – foram os últimos realizados. A companhia não operará mais nenhum voo fretado pela ViagensPromo”.
Na segunda-feira (17), a Associação Brasileira de Agências de Viagens (Abav Nacional), comunicou em um webinar que oferecerá assessoria jurídica gratuita aos associados afetados pela situação da ViagensPromo. Em nota enviada à Agência Brasil, a presidente da entidade, Ana Carolina Medeiros, explicou o e jurídico oferecido aos agentes de viagens: “Essa é uma ação estratégica para fortalecer o setor e garantir que os direitos dos agentes sejam preservados”.
No dia 19/2, a Associação Brasileira das Operadoras de Viagens (Braztoa) lamentou que a ausência de cumprimento das obrigações por parte de um prestador de serviços turísticos poderia gerar impactos severos não apenas para os consumidores, mas também para os demais elos da cadeia do turismo. Ressaltou ainda que a Viagens Promo nunca foi associada à entidade.
Já nesta quinta (20), a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, notificou a empresa para prestar esclarecimentos sobre o cancelamento de voos fretados desde segunda-feira (17/2) no prazo de cinco dias.
Posição da Viagens Promo
Para o presidente Abav Minas, Peter Mangabeira, a desvinculação da Viagens Promo da entidade no ano ado já era um sinal da crise. Até o momento, segundo o executivo, apenas duas agências procuraram a entidade para reclamar da operadora.
Em comunicado, a Viagens Promo afirmou que está em negociação com parceiros comerciais para tentar minimizar os impactos sobre os viajantes. “Estamos trabalhando para encontrar soluções viáveis que permitam a reacomodação dos ageiros e a restituição dos valores pagos”, informou a empresa. Para as agências de viagens, no entanto, a Unav explica que a Viagens Promo ofereceu apenas duas opções: solicitar o cancelamento das parcelas futuro, com estorno conforme o meio de pagamento, ou aguardar a recuperação financeira da operadora.
O que deve fazer o viajante
Bhrenda Gagno (@advdoviajante e @vellosogagno.ad), CEO do escritório Velloso Gagno e especialista em direito do viajante, destaca que a crise na operadora Viagens Promo pode ter um efeito em cadeia, afetando agências menores que dependem da operadora para oferecer pacotes competitivos no mercado. “Essa situação é preocupante, pois muitas agências compram serviços diretamente da Viagens Promo e, com o colapso das operações, o risco de falência para essas empresas também aumenta”, explica.
A crise, segundo ela, é parecida com o da 1,2,3 Milhas no ano ado. A advogada explica que, no caso da agem aérea, se o viajante já tiver o localizador a companhia precisa continuar o embarque e não pode cancelar a viagem. "Caso tenha comprado via agência, o viajante deve exigir que ela arque com o prejuízo. É importante ressaltar que não deve sair nenhum valor do bolso do viajante”, enfatiza. Para a advogada, tanto a Viagens Promo quanto a agência que vendeu o serviço deve ser responsabilizadas pelo prejuízo.
No site da Viagens Promo, não há nenhum aviso e os pacotes continuam a serem vendidos normalmente. A operadora já informou que é possível cancelar as parcelas futuras para quem pagou via cartão de crédito ou boleto bancário. Mas não ofereceu alternativa de ressarcimento para as parcelas já pagas. O ageiro também pode optar por aguardar a recuperação financeira da operadora. Caso e a agência onde comprou o serviço e não tenha o problema resolvido, a solução para o viajante é a justiça. “Para isso, guarde todos os recibos de seus gastos de viagem”, conclui a advogada.